Opinião

Notícia publicada terça-feira 01 maio 2012

Rogério Lima – A aldeia dos Campos Gerais

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Há mais de 43 anos vivo na grande metrópole de Palmeira. Antes de mudar para esta cosmopolita metrópole, nasci e vivi alguns anos em um bairro chamado Ponta Grossa. Meu pai era natural de uma longínqua vila chamada Tibagi. Já percorri bairros, vilas e povoados desta minha grande metrópole, como Irati, Castro, Telêmaco Borba, Prudentópolis, Imbituva, São João do Triunfo, Ipiranga, Ivaí, Teixeira Soares e Porto Amazonas, entre outros. Quem conhece um pouco de geografia sabe que todos estes lugares existem de fato e estão inseridos no que se chama região dos Campos Gerais. E quem conhece um pouco melhor as coisas do mundo sabe que isto é uma brincadeira. Brincadeira, porém adornada de seriedade. Quero ressaltar que é através do lúdico que conseguimos chegar a resultados mais concretos e, por isso, usei deste artifício para tratar de assunto da mais alta relevância, que é a proposta da criação da Região Metropolitana dos Campos Gerais.

O poeta português Fernando Pessoa poetizou: “O Tejo é o rio mais belo que corre pela minha aldeia/mas o Tejo não é mais belo do que o rio que corre pela minha aldeia”. O rio Tejo é o maior rio de Portugal e seria, em paráfrase, poetizar dizendo que o Tibagi é o mais belo rio que corre pela minha aldeia, mas não é mais belo do que o Monjolo. Nossas aldeias podem ter, como nos versos de Pessoa, a dimensão que damos a ela em determinadas ocasiões. A minha aldeia é universal, porque eu a canto e faço dela o melhor e maior lugar do mundo, como nos ensinou o escritor russo Leon Tolstói, independente de dar a ela a dimensão do terreno da minha casa, da extensão da minha rua, da minha cidade, do meu município, da região, do Paraná ou do Brasil.

Na segunda-feira, em Curitiba, quando da audiência pública chamada para discutir uma proposta de estabelecimento da Região Metropolitana dos Campos Gerais – nome adequado porque não fere os sentimentos bairristas – encontrei e conversei com pessoas de Ponta Grossa, de Porto Amazonas, de Tibagi, de Ventania, de Castro, enfim, gente de toda a região que esteve lá para ouvir, tentar entender e discutir a proposta. Tão diversas quanto são as realidades dos municípios da região foram as opiniões manifestadas durante o encontro. Se favoráveis ou contrárias, o importante é que se começou a discutir a integração regional e estimulou-se o espírito dos Campos Gerais como o local onde estão encravados  e os municípios e que este precisam de união para poderem chegar a um estágio de interpendência para o desenvolvimento social, econômico e cultural.

Em 1998, em um seminário realizado em Ponta Grossa, pelo Instituto Cidade Viva, tive a oportunidade de palestrar sobre desenvolvimento regional. Falei da necessidade, que vislumbrava naquele momento, de os municípios agirem de forma integrada, buscando a valorização de sua produção, então esmagadoramente agropecuária, agregando valor com o beneficiamento e transformação industrial desta matéria prima de toda a região. Também discorri sobre a irrisória destinação de recursos do Estado para investimentos regionais, fruto da desagregação política e da visão mesquinha que prevalecia. Acredito que não estava errado, pois, 14 anos depois, uma proposta de âmbito regional vislumbra tais situações.

Na audiência pública em Curitiba, ouvi políticos de Ponta Grossa afirmando que é preciso parar de olhar para o passado e adotar um pensamento progressista que beneficie toda a região. De outro lado, ouvi políticos de outras cidades demonstrando mágoa por não terem sido consultados a respeito da proposta que se apresentava naquela ocasião. Alguns políticos mudaram e outros não. Os conceitos transformam-se quando necessário e, acredito, o conceito de região será transformado quando a compreensão da aldeia for elevada à necessidade de todos estarem juntos para que todos possam desenvolver-se. Então, que discussão que agora se iniciou venha a Região Metropolitana dos Campos Gerais.