Opinião

Notícia publicada quarta-feira 16 fevereiro 2011

Rogério Lima – O lixo que nos envergonha

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O que mais vemos no piso das calçadas e das ruas da cidade, além das pedrinhas pretas e brancas do petit pave e do asfalto – inclusos buracos e rachaduras – é uma quantidade enorme de lixo. Aliás, lixo de todo tipo. De papel a vidro, passando por plástico e metal, é possível encontrar uma infinidade de materiais lançados ao solo por pessoas que acreditam viver no fundo de uma lixeira. Não sei de existe uma consciência da maioria de que é de lixinho em lixinho que se forma um lixão. Dias atrás, encontrei na praça em frente ao Cemitério Municipal, que leva o nome de Domingos Theodorico de Freitas, embora em menor escala, uma coisa bem parecida com o terrível lixão que existia na localidade de Benfica. Inclusive com cheiro!
Fico imaginando situações vexatórias que bem poderiam ser protagonizadas por quem larga lixo no chão da cidade como se fosse a sala ou a cozinha da própria casa. Se bem que casa que tem lixo no chão não pode ser considerada casa. Certo? Imagino o cidadão – sem noção de cidadania, óbvio – jogando ao solo uma embalagem de salgadinho, sem perceber que atrás dele uma senhora de certa idade que, ao perceber a falta de consciência ambiental do transeunte que vai em frente, abaixa-se, com dificuldade, apanha a embalagem, apressa o passo e alcança o sujão, asseverando: – O senhor deixou cair esta embalagem ali atrás! Sacode a embalagem na frente dos olhos do cidadão que não tem o mínimo senso de cidadania e dá um sorriso sarcástico. O que ele vai fazer?
Outra situação vexatória para um sujão que seria interessante presenciar, embora a dificuldade de sua ascensão da ficção à realidade, remete ao tal personagem – bastante comum no nosso dia a dia – para o lado de uma lixeira, comendo uma banana, com a casca ainda parcialmente apegada à fruta. De súbito, dá a última mordida e lança a casca ao chão, bem ao lado da lixeira. Um grupo de cidadãos que assistia à cena, também de súbito, apanha a lixeira e despeja o conteúdo sobre o sujão. O que ele faria?
Nos dois casos, penso que os personagens não teriam qualquer reação diante do inusitado e do espanto. Como imagino também, já com um pé bem firme na realidade, que reações como a da senhora da primeira cena e do grupo de pessoas da segunda cena são pouco comuns. Se há falta de consciência e de noção de cidadania para os que sujam ruas e calçadas, falta também poder de reação por parte dos que gostam da cidade limpa. Estamos tão acostumados com a sujeira espalhada nas ruas e calçadas que, passivamente, já não nos sensibilizam cenas como as narradas acima. Ficamos impotentes e não demonstramos ter vergonha de conviver com o lixo, com a sujeira e com o mau cheiro. É um cenário feio que fica muito pior com a aceitação submissa da maioria!
LEMBRANÇAS BOAS DE CARNAVAIS passados de Palmeira não voltam a ser realidade, embora tentativas feitas há anos busquem reviver um pouco do que era interessante e espontâneo. Não dá mais! Carnaval como festa popular, organizada em sua falta de organização por ser o momento de desabafo e superação do cotidiano e da rotina, talvez aconteça pontualmente em algumas cidades. Nem mesmo o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro guarda a mágica do passado. Virou produto turístico para exportação e foi pasteurizado para ser mostrado na televisão. Nada contra as tentativas de resgatar o irresgatável, mas não tem a menor possibilidade de comparação o carnaval de antes, embalado por marchinhas que todos cantavam e com as quais atravessavam as noites, com o arremedo atual, na pancada do axé music que nos é empurrado ouvidos adentro, sem pudo r e sem vergonha de ser rotulado como música de carnaval. Nem com fantasia consegue enganar àqueles que viveram o carnaval com cara e jeito de carnaval.